domingo, 28 de dezembro de 2014

Ostracismo

Não vou carregar
O fardo que não me cabe
Não fui ensinado
Como ajudar

Não é minha responsabilidade
Seu fracasso
Não me culpe
Por não ter ficado lá

Não posso aceitar a culpa
De pecados que não foram meus
Por desvios que não cometi
Por ter sido fraco
E permitido a dor me abraçar

Não exijo qualquer razão
Entenda,
Não quero saber
Não me importa quantos
Caminhos você quis percorrer
Mas não posso violar meu ninho
Como quem se justifica por prazer

Por prazer, não quero!
E se for, que seja por amor
Mas não vou aceitar
E deixar você me atacar.

Eu sinto muito
Não ter sido capaz de aguentar
Podia ter guardado
Podia ter esperado
Mas, veja bem
Eu não sei enganar.

Não quero esconder meus olhos
Porque você já os viu
Minh'alma, meus planos
Não quero ter de mudar.

Mas olhe pra mim e veja
Eu sou um anjo ferido!
E não vou te negar...
Ainda não aprendi a amar.
Portanto, entenda
Que mesmo com toda essa calma
Ainda não aprendi a perdoar.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Escrituras

Sei que as coisas já não são mais
O que costumavam ser há algum tempo atrás
Você, como eu, tinha um grande ideal
Que ninguém roubaria
Ninguém roubaria

Mas a noite chegou e as crianças cresceram
As flores se abriram, as flores morreram
O tempo passou e a verdade chegou:
Não somos mais tão juvenis

Escrevemos no chão para lermos no céu
E tivemos um sonho desenhado no papel
Mas você não seguiu o roteiro
Ah, você preferiu de outro jeito

Você lê o mundo, assim como eu faço
E pode julgar, eu sei. É o compasso do passo
A lógica é simples: você já sacou
E agora, minha amiga... O que nos restou?

Sua sabedoria - que sempre questionei
Era vã - eu sabia! -, mas não lhe contei
Que você resolveu olhar pra outro céu
E você escolheu olhar pra outro céu

As escrituras nos mostram o que escondemos
O que os outros guardam
Deixe que fique com eles...
Deixe que deixem com eles...

Não nos diga como as pessoas deviam ser
Não garanta que tudo do mundo você pode conhecer
Sua palavra não é a voz superior
Sua arrogância, minha amiga...
Ah, sua arrogância
Te desmoronou

E sei, você sempre quis
Boa classe, luxo e grana
Sufocar sua alma
Jogá-la na lama
Pra mim, você sabe
Isso nunca foi nada...
Você nunca foi nada...

Você não sabe nada
Você não sabe nada....

Teatro de Rua (Cena Final)


Um acorde
Silêncio.
Nenhum passo é ouvido
Espero.
Dá pra sentir, no rosto, a chuva rala que cai
Inexorável
Tal qual minha austera certeza
Há ligeira brisa no ar
Aprecio o clima - meu favorito.
O céu, pintado de um azul quase negro
Aperta minha palma enrubescida...
Atento-me para uma voz
"Um artista. Eis o que ele foi."
Desço um andar
Ouço melhor
"Um ser humano incomparável
Dotado de tamanha sensibilidade
Com um coração jamais igual visto"
Esboço um sorriso
Não é de alegria, eu sei.
Há algo debochado em meu olhar
Outra voz rasga o ar
"Um melhor amigo que alguém já pôde ter!
Dotado de tamanha sensibilidade
Com um coração jamais igual visto"
Começo a perder o interesse
Em seguida, vejo a cena principal:
O grande cofre de claro marfim começa a imergir no solo
Observo lágrimas 
E parecem tão sinceras
Mas começo a refletir
E as questiono.
Por que, então, não me foram dadas nos anos anteriores?
Por que tais palavras, ditas com tanta verdade
Não me foram proferidas
Enquanto meu corpo transitava junto a vossos corpos?
Parto.
Deixando para trás, completamente
Todas aquelas pessoas que ouvi com pesar.
Procuro por um isqueiro em um dos bolsos de meu paletó
E acendo outro cigarro
Enquanto trago, penso:
Um pequeno artigo indefinido no mundo
Dotado de tamanha sensibilidade
Com um coração jamais igual visto.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Love Song

Ah...
Se eu pudesse, te daria
toda a minha força
Meu poder em convencer
Minha coragem
Se eu pudesse, te daria
Meu título de Doutor
na arte que tanto condeno
Te daria toda a verdade
que sou capaz de pronunciar
E tiraria de você
esse olhar entristecido
Te daria mais que tenho
Te faria melhor que a mim
E te poria no lugar
daqueles que tanto venero
Te daria meu potencial
Minha capacidade de morrer
De ressuscitar... de explodir!
Se eu pudesse, meu sol
Te daria minha lua
Minha virtude mais secreta
Minha solidão mais sagrada
Ah, se eu pudesse...
Se eu pudesse, tomaria de ti
Todos os seus traços
E seria você
Porque você entenderia, enfim
Tudo aquilo que dói em mim

quinta-feira, 29 de maio de 2014

1986 (A Mundana Tragédia)

Você se comporta como quem não se importa
E eu assisto a véspera da tragédia
Do nosso caso redobrado
Amassado
Acabado

Foi preciso mais de um ano
E algumas semanas de vermelhidão
Pra chegar, finalmente, à conclusão
De que ninguém, nunca, vai mudar

Não espere que eu admita
Que aceite ou pondere
Suas dissimulações
Seu caráter
Tudo aquilo que me destrói

Eu sou a lua que, minguando, some
E crescendo explode
Todo o medo do seu sol

Meu sol, você
Cheio de desejos fúteis
Tão humano e tão distraído
Que mal se ajeita frente a mim

Sumo, sempre, pós a morte
De toda a sua beleza
Quando, na verdade
Deveríamos nos opor
E, por fim, encontrar o amor
Que nossa oposição deveria oferecer...

quinta-feira, 6 de março de 2014

"O Que a Água Me Deu"



Inesperado
Inacreditavelmente inacreditável
Você me veio
Subindo 
Em meio à penumbra do cemitério
Trazendo nas mãos mais de um sonho

Como posso acreditar
Que entre toda essa bagunça
Todo esse inferno
Você pode ser real?
Marcando o fim do intenso inverno
Vencendo o frio e surgindo sobre a neve

E, mesmo no começo, chegamos à conclusão 
De que, sobre o amor, sempre seremos iniciantes
Somos eternos inexperientes
Porque o amor é apenas natural


sábado, 1 de março de 2014

Prólogos da Primavera

Sinto o perfume
Fecho os olhos
Se aproxima
Estou cercado
Sorrio
Eu
Você
Vênus
Sol
Um
Sete
Quinze
Trezentos Mil reais e três mil horas
E, finalmente
Você chegou!