terça-feira, 20 de novembro de 2012

Panaceia


Caminho na chuva
Ninguém me vê... Ninguém existe.
São lágrimas, aqui.
Deixem-me chorar!
Eu preciso estar triste...

Atiraram-me ao rio
Meu corpo flutua "demi-sec"
Seu corpo nu reflete em minha tez pálida
Tento não imergir
Você me puxa, me assopra. 
Sou uma folha...
Voo. 
E sou tão sensível! 
Seu toque parte-me ao meio. Parte-me em mil pedaços...
Inexisto, então.
Transformo-me em poeira
E invado seu quarto
Invado sua vida e invado suas narinas
Estou em você.
Respiro toda a sua respiração
Faço parte do seu ar
Danço em seus pulmões manchados de cigarros
E tento encontrar meu lar
Mas um impulso me domina
Saio, com o vento
E estou deitado ao seu lado
Ofegante, suplicante
Seus olhos me maltratam
Há sangue dentro deles, consigo ver, agora
Preciso de uma fuga.
Estou caindo, novamente
Estou no abismo mais profundo:
Seus dedos.
Eles transam a minha inocência 
E me fazem criança no cômodo incômodo de seu colo
Você tragou minha vida
Como trago esse desconhecido esfumaçado que compartilhamos.

Adormeço.

Outro relâmpago.
A chuva está forte.
E a tristeza foi só uma folha que chutei sem querer.





Special thanks to Fluvial Waters. You always kept me awake. 



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

True Blood




Gostos, gestos, movimentos
Todos os possíveis coincidentes
Efêmeros incidentes
Aproximando-nos “acidentalmente”

Num relicário aveludado
Há aspas e sentimentos escondidos
Corações brutalmente feridos
Exímios patéticos ruídos

Heroína, cocaína, salvação
Um Jesus desolado, abatido e invertebrado
Um louco esquizofrênico, machucado
Absolvido do ímpeto do sagrado pecado

Vento no rosto, no braço e no corpo
E um pouco de mãos e beijos de despedida
Porque depois de toda a saída
Você começa a penetrar minha esboçada vida.

E sua vida faz-se nossa
Meu peito assopra o seu hálito
A febre, a nebulosa solidão
De estar sempre dentro de um espelho.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Jean Carlo (Por Vini)

Hoje quer, amanhã não quer, tudo que era difícil ficou fácil e não vale mais o desafio. Pois o fogo é indomável e consumidor. Aliás, o fogo é isso mesmo, adorável, mas não pense que a sua doçura não queima. Queima. E deixa hematomas. Acredito que Jean não é ruim de coração, pois o faro não mente e o cheiro é bom, como grama molhada. 
Contudo, pense: não se iluda! Outras pessoas já caíram na grama... 
Pode ser rolando... Ou ralando. 
E finalmente entra naqueles amores complicados,
pois tudo que é muito fácil não atrai, não dá liga na massa corrida que reboca o seu pobre coração. 
O limite está ligado aos trópicos, ou talvez à galáxia, outra dimensão... 
Mas quem nunca se apaixonou por um marciano, não é mesmo? 
É tudo tão verde, que lembra a grama, da lama. 
É do tipo que fala “não me importo” pra ficar todo importado pelo desdém. 
Faz-se forte, pra ficar forte e acreditar que força rege tudo e une continentes. 
Da tal da esperança e do "não se importar" surge a desconfiança, de que ser feliz é ser simples e simplicidade é ofício - se aprende. 
Liberdade. Quem a tem, e quem, aos ferros, cala tua voz? 
Que as nuvens sempre acompanhem teu caminho e te guiem às árvores de descanso... Não que ficarás nessa sombra para sempre. Nômade de almas caminhando ao sol; queimar-se é prazer, é pra provar que vivo está.

Por: Vinícius de Moraes Santini

O Espelho


Uma dança rebolante no meio da chuva
E um sorriso solitário 
Verdadeiro, genuíno, simplório...

Apreciando sua solidão, ele vai
Não quer robôs, nem modelos, nem heróis, nem bonecos
Quer-se a si próprio.

Fala-se tanto, em silêncio
E só quem ama consegue ouvir
O ser sensível que vem da luz no meio da escuridão

Caminhos tortos e automutilações sorrateiras, silenciosas
Nenhum beijo de agradecimento, porém
As cobranças sempre foram mais presentes que os presentes de parabéns

E, assim, segue esperançoso 
O ser noturno que se alimenta de frutas velhas
A "Rogue" do mundo real
Aquele que não pode ser tocado nem tocar nenhum outro ser
Sem roubar-lhe um poder secreto

E se vai.
Se "some"
Se consome por consumir demais
Mas sempre olhando pra dentro
Porque o "fora" está muito comum
E o que é comum é desagradável

Mas, simplesmente, se vai...
De olhos bem fechados, se vai.

(Mas só desejava ficar mais um pouco...)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

European Winter

We travel this whole world
And know many places
Seeking for something to join in
And get some awareness
But there is no place
In this world, lord
There will never be a place
Like home

Knees down, praying silently
Just trying to get some peace and comfort to our minds
But we’re in the road, honey, and mamma is not here close to us
To calm us down and sing a lullaby
To make us some coffee and lecture before we’re going out
To bring us the forgiveness that only mothers have

And we will grow up someday, sometime
Leaving all the kids that exist in us forever behind
We’ll love people, we’ll make love and we’ll fight us up
Because life ain’t changing
It’ll never change, baby

So drink this red wine while you can
Tomorrow’s too far and we don’t know if we’ll be here yet
We’re in the road, honey…
And this road takes us too far
Too far from mamma
Or papa, or grandma and grandpa

And all this time we’re only searching for something
Sometimes we don’t even know what it is
But for me it’s far too clear now
We’re only looking for home, sweetheart
And we’ve lost it somehow

And no matter how many houses we have now
Or how many cars and people ‘round us
We’re all going to drop it, anyway
And let it pass, try to find another way

But all we’re trying to find is in the past
Somewhere we could find some really rest
And, baby, it’s not a house or a car, or a posh drink
It’s called “home”, baby
It’s where mama’s waiting for us

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Perso


Calibro o foco
Calibre .38
Assisto à cena
De dentes cerrados
Desdento-os num canil
Acordo senil
E pago pra ver.

Confesso o apreço
E informo o preço.
Pague pra ter
Que eu pago pra ver.

Falta-me a vez
Duas, quatro ou três
Sustento o sorriso
Um velho amigo
Imaginei outra vez

O gosto é azedo
Mas o sal me adoça
E ele fica...
Ele me ama.

Vermelho e Preto


O acaso semi fantasiado
Duas fichas e dez surpresas
Solidão por companhia
E companhia por solidão
A energia multicolorida 
Invisível do plano "B"
Invencível, o "Dia D"
O balé de duas almas sedentas
(Ainda que, por diferentes águas)
Brilha no palco escuro do teatro
Que fica na Avenida Principal.
Estou dançando com a morte
E ela brinca com a própria sorte
A indecisão de pisar no meu pé
No compasso rítmico clássico
Do "dois-para-lá-dois-para-cá"
Deslizamos suaves silhuetas
Como num filme qualquer de J.L. Godard
E a noite gira em estilo carrossel 
Tragando mariposas avulsas
E flores fúnebres feitas de papel.
Salto pro improviso espontâneo
Vendo a vida, agora, em sépia
Colorindo as vertentes
Que escondemos sob cobertores
E no tarde amanhecer
Os passos se apressam:
É o começo de outro dia
É o fim de outra noite
E me ajeito em qualquer lugar
Adormecendo qualquer sensação
Na esperança de ter sobrevivido.



Special thanks to E.D.V. I'd never do this without your lies.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

10 De Outubro (II)

Ninguém vai conseguir me controlar
Nem dizer pra onde vou
Nem o que devo fazer
O que vestir, provar, cheirar ou sentir

Ninguém pode tomar conta de mim
Eu me viro, assim
Sozinho, do meu jeito
Porque sou o fogo. Eu sou o fogo, e queimo!

Não é porque me falta autocontrole
Que vocês podem me fazer o que quiserem
Eu sou a essência do mundo
E sou bicho, inseto, demônio, homem e mulher

E sou o que quero ser
Diferente de você,
Que já nasceu predefinido
E vai morrer se reprimindo

Sou do fogo.
Eu sou fogo.
E eu queimo.

A Fome



Sociedade canibal
De pessoas individualistas, famintas
Que se comem sem se temperar
Que se engolem sem mastigar

Se alimentam dos meus sonhos
Me deixam nu, sem plano algum
Destroem meu coração
E pra onde vou?

Eles ensinam a amar
Ensinam a comer e a matar, também
E assim você vive, você segue seu caminho
E te ensinam, também, que não se deve estar sozinho
Porque alguém tem que te roubar
Alguém tem que te comer
E ele não vai te mastigar.

E se você quiser ser mais forte
Tem que passar no teste
Tem que comer o “Pac-man” do seu trabalho
Tem que comer o “Come-Come” da igreja.

Se escolher ser sozinho
Eles vão te deixar abandonado
Num deserto inabitado
Sem água, luz ou telefone
E muito menos aluguel, pois não se pode pagar por uma casa no céu
E, sejam bem vindos.
O paraíso é aqui.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sonhado.




Sombra e água fresca.
O relógio parou no tempo.
O tempo moveu-se contra mim
E se atirou do abismo.
voo da liberdade...
O tempo suicidou-se.
E agora não temos mais tempo!
E temos tempo pra qualquer coisa.
Posso me deitar e nunca mais me levantar
Porque o “nunca mais” também morreu.
E o “pra sempre” agora é eterno
O amor também parou no tempo.
E agora está livre pra caminhar nas calçadas
Com passos tão calmos quanto aos daquele senhor
Que não sabe bem pra onde vai
Mas vai pra alguma direção.
O dia não é mais dia.
A noite, tanto faz.
E tudo se encontrou
Porque o mundo voltou-se para sua posição natural:
De cabeça para baixo.
As pessoas perceberam que a vida realmente existia
E começaram a usá-la.
Porque o tempo não era mais o vilão da história.
E não era, também, a desculpa que todos usavam
Morreram os atrasos, os erros, os versos e as relojoarias
Mas perdi o controle.
E a minha vizinha também perdeu.
O tempo era a peça que faltava...
E ninguém ainda entendeu.
É o veneno que desperta.
É o hálito refrescante da morte – que usa creme dental de hortelã.
O beijo envolvente que nos leva às profundezas
De algo que não vejo, porque meus olhos estão fechados.
E os da minha vizinha também estão.
E quando o copo de água se esvazia
Percebo que nada mudou.
Tudo está diferente.
Mas nada mudou.
O ponteiro do relógio gira com uma perita paciência
E o garçom me pergunta se vou pagar com dinheiro ou cartão.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Presságio



Abracei o silêncio do meu lado
Chorei a dor em seus ombros frios
E ele me enxugou o rosto molhado

No meio dessa escuridão faminta
Perdi o meu sorriso, já consumido
Juntei pedaços de mim mesmo
Que não se encaixam

E caio num chão tão vasto quanto eu
E a intuição me dá esperanças
Mas, quê são elas se não há mais nada?

E todas as flores se quebraram
Porque todas elas eram de plástico
Ainda existia o perfume
De algumas delas no quarto

Poderia ter sido mortal se não tivesse sido sutil
É o perigo de ser intenso e acabar se entregando
Ao que os outros põem em nossas cabeças
Ao que escrevem nas canções e nos cartões
De “feliz-dia-dos-namorados”...

Abracei a escuridão no meu quarto
Sorri o sufoco que me assassinou
E ela me disse que era você.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Lamúria Narcisista (Quis custodiet ipsos custodes?)



Eleito agora, o tédio permanece, então, imóvel
Retida a novidade, tenho ainda a liberdade
E a alma displicente não sugere nada novo
Não há, além do medo, outro grande pesadelo

Um copo de veneno misto de café
Preciso despertar a intolerância
E acertar com uma faca cega a ignorância
Deixar reinar o sol

Queimando, sol que queima
Queimando a dor que teima
Que queima o sol queimando
O fogo que vadeia

Quem cuida dos anjos?

A dança de dois sóis a sós
O solo do solitário (o lunático autoritário)
Somente a soma subtraída
De resultado dois e de um
De “igual a dois” e de “menos um”

Quem guardará os guardiões?

domingo, 13 de maio de 2012

Escorpião [in]Hostil

A noite chega e ele me acompanha até meu quarto
Depois de uma briga, decide ficar
E acende um cigarro, e deita na cama, e usa o banheiro, e goza no chão.
Enquanto eu me cubro, ele me descobre
Descobrindo meus segredos
Revelando-me meus medos
E me ensinando a fugir
Não sei se é amigo, namorado ou estranho
Nem se fica, se vai ou se morre.
Mas me mata.
E eu não costumava morrer...
Me enche de pancadas
E me abraça depois
Me ama no frio
E me odeia depois
Me lambe nos pés
E a cabeça esquenta
Por causa do calor das minhas mãos
Que insistem em espancar as portas da sua alma
Porque você não passa de um fantasma na minha parede.